sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Abandonada, fronteira amazônica se torna palco livre para o crime organizado

No lado boliviano do rio Guaporé, próximo ao município rondoniense de Pimenteiras, uma cruz chama a atenção dos navegantes. Fincada num pequeno promontório às margens do rio, a cruz é um símbolo do abandono da fronteira Brasil-Bolívia, corredor de acesso fácil aos dois países. Um território aberto para o tráfico e o contrabando. A cruz homenageia o policial federal Roberto Simões Mentzinger, morto com um tiro naquele local pelo boliviano José Pereira Melgar em 1999. Na versão oficial da PF, o agente investigava uma quadrilha de traficantes que enviava cocaína da fronteira para São Paulo. Abandonado, o corpo do agente federal foi devorado por onças.
Pouca coisa mudou na fronteira com o decorrer dos anos. E isso faz desse pedaço do Brasil amazônico um território onde seguir a lei é um exercício complexo. É o que ocorre, por exemplo, entre os municípios de Guajará-Mirim, em Rondônia e Guayaramerin, na Bolívia. Separadas apenas pelo rio Mamoré, as duas cidades sentem os efeitos da crise econômica mundial.
A extensão da fronteira do Estado de Rondônia com a república da Bolívia é de 1.342 quilômetros. Os municípios rondonienses localizados na faixa da fronteira boliviana são Guajará-Mirim, Nova Mamoré, Costa Marques, Alta Floresta do Oeste, São Francisco do Guaporé, Alto Alegre dos Parecis, Pimenteiras do Oeste e Cabixi.
Outrora repleta de lojas com os mais diversos artigos e bugigangas eletrônicas, Guayaramerin é um pálido retrato do que já foi. A Avenida General Frederic Román, principal via comercial da cidade, sempre repleta de brasileiros, agora tem mais portas fechadas que abertas.
Isso resulta num convite a mais para atividades ilegais. Os portos clandestinos mantêm atividades febris, principalmente à noite e nas primeiras horas da manhã. Adaildes Gomes, o ’Dourado’, é um dos que fazem da própria embarcação um veículo para atividades ilegais de contrabando. “Aqui se atravessa de tudo”, diz ele. O ‘tudo’ significa eletrodomésticos, comidas, peças de vestuário. Do lado boliviano também chega gasolina, mais barata que a brasileira. “Molhou as mãos do cara e está dentro”, diz Dourado.
“Os caras passam por todo canto”, diz o barqueiro Villemar, experiente trabalhador de embarcações de passageiros nos rios Mamoré e Guaporé. Um dos principais portos clandestinos entre os dois países é conhecido como ‘Igarapé do Primeiro’, um pequeno e discreto ‘furo’ no rio. Ali, de manhã até o meio-dia, o movimento é contínuo. Villemar conduz os repórteres em uma lancha voadeira para observar de perto os portos clandestinos enquanto explica o funcionamento das atividades.
O vai e vem de pequenos barcos de uma margem a outra do rio carregando produtos contradiz até a determinação escancarada estampada numa placa de um pequeno porto boliviano. Entre outras recomendações há a expressa proibição de se transportar produtos ilegais. Obviamente ninguém dá atenção à placa.
Terra sem lei
Nos dois municípios a violência e a prostituição ganham espaço. Mais visível ainda é o problema em Guayaramerim. Apesar de pequeno, o município tem muitas casas noturnas. Não é incomum encontrar meninas de 14 anos se prostituindo.Fonte MZ

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