Por: Bruna Lima / O Liberal
Nos primeiros três meses deste ano, a Justiça Militar do Estado do
Pará recebeu 86 denúncias de ações penais relativas a crimes praticados
por policiais militares e bombeiros quando de serviço ou de folga. Os
crimes praticados por policiais militares são os mais denunciados.
Atualmente, o crime de lesão corporal é a principal denúncia que chega à
Promotoria Militar resultando em 30 casos apenas no primeiro trimestre.
Além desse delito, há denúncias de abuso de poder com 23 casos; invasão
de domicílio com 18; e peculato culposo pelo extravio de arma de uso
exclusivo da corporação com 15 registros. Esse último crime é uma das
principais preocupações da promotoria, pois vem crescendo nos últimos
anos.
A Promotoria Militar recebe com maior frequência denúncias contra
policiais militares durante serviço de policiamento. Os casos de lesão
corporal, por exemplo, são praticados, na maioria das vezes, durante
abordagens e blitzen. “Na semana passada chegou uma denúncia contra um
policial militar que atirou contra um veículo em uma blitz. O
proprietário do carro estava com a família e, ao ser abordado pelos
policiais, ele não parou na barreira. O policial demonstrou total
despreparo, pois efetuou tiros contra o veículo”, exemplificou o
promotor titular da Justiça Militar, Armando Brasil.
Mas é o crime de extravio de arma de uso exclusivo da Polícia Militar
o que mais preocupa representantes da promotoria, uma vez que nos
últimos anos o número de denúncias vem aumentando. Apenas no primeiro
trimestre de 2016 já foram 15 registros e, no ano passado, foi o crime
que mais houve denúncia. O promotor disse que três em cada dez denúncias
são de extravio de arma. Essa modalidade criminosa municia bandidos
para a prática de roubo, latrocínio e homicídio.
Ainda conforme o promotor, esse tipo de crime ocorre com maior
frequência quando o policial militar está de folga. Nos depoimentos, os
policiais geralmente dizem que deixaram a arma no carro ou em outro
local de fácil aceso e ao retornarem se deparam com a falta da pistola.
Diante disso, eles respondem pelo crime de extravio, uma vez que a arma é
de responsabilidade do policial militar. Eles só não respondem pelo
crime quando há ocorrência de roubo.
Os casos de abuso de poder e invasão de domicílio já têm 41
registros. Para o promotor, é necessário que seja realizado com
frequência a reciclagem dos policiais militares, uma vez que eles lidam
diretamente em situações de conflito. “Nós falamos em palestras sobre o
cuidado que os policiais devem ter durante as abordagens, pois é normal
as pessoas reagirem. A capacitação e o preparo do policial vão
contribuir para a redução das denúncias”, completou.
Com relação às denúncias contra militares do Corpo de Bombeiros, o
promotor explicou que o número é menor, porém, a promotoria está
investigando um caso grave envolvendo oficiais da corporação pela
falsificação de laudo do Hospital Pronto-Socorro (HPSM) do bairro do
Umarizal, em Belém. O laudo foi montado com a tentativa de mascarar a
verdadeira causa do incêndio do hospital. Em 2014, a corporação atendeu a
solicitação de inspeção no HPSM solicitada pelo Ministério Público do
Estado. No primeiro laudo foram apresentados os diversos problemas na
fiação elétrica entre outros.
À época, a corporação deu um prazo para a Prefeitura de Belém fazer
as adaptações, que não foram executadas e um novo prazo foi dado. Em
junho de 2015, ocorreu o incêndio e os oficiais responsáveis pelo
trabalho estão respondendo judicialmente, uma vez que os prazos foram
dados, a prefeitura não cumpriu com as obrigações e nenhuma providência
foi tomada pela corporação.
Nesse caso, a Justiça Militar identificou omissão por parte da equipe
responsável pela vistoria. E, após o incêndio, foi feito outro laudo
pelo Corpo de Bombeiros que informou que o incêndio foi causado por uma
pane em um aparelho de ar-condicionado.
REAÇÃO
Em nota, a Corregedoria Geral da Polícia Militar diz que tem o
objetivo de fiscalizar, instruir e, principalmente, orientar. “A CorPMPA
como setor correcional, também se dedica a instruir os militares a
oferecer um melhor serviço à população, através de palestras semanais
proferidas à praças e oficiais de todo o Estado. Os resultados desta
interação com a tropa já podem ser vistos e têm rendido dados
favoráveis. De 2013 para cá, o número de prisões em flagrantes
registrados pela Corregedoria, por exemplo, diminuiu de 85 para 53 em
2015. O que não significa que a atuação da corregedoria se encolheu, ao
contrário, o trabalho preventivo e de investigação, feitos sempre com
extremo rigor, ganharam mais eficiência. Vale ressaltar que as punições
só ocorrem após o devido processo legal quando comprovada a culpa dos
policiais”. A nota da assessoria de comunicação informa também que “a
Polícia Militar fechou o ano de 2015 com saldo positivo nos quesitos
investimento e qualificação de seu servidor. Somente no ano passado,
2.391 militares foram capacitados em 22 cursos, dentro e fora do
Estado”.
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