O brasileiro que ficou mais de um ano preso nos Estados Unidos por ter
enviado um e-mail às autoridades americanas dizendo que havia uma bomba em um avião disse ao
G1 que
mandou a mensagem porque não conhecia as leis do país. “Não sabia que
era crime. Se soubesse, jamais teria enviado”, afirma Francisco Fernando
Cruz, que voltou para casa, em Sorocaba (SP), nesta quinta-feira (19).
Eu estava sentado na minha poltrona quando vi uns dez
agentes do FBI, da CIA e da polícia de Miami entrando no avião. Na
hora, pensei: ‘nossa, deve ter alguém muito perigoso aqui dentro’. E no
fim, era eu”
Francisco Fernando Cruz,
brasileiro preso nos EUA
Segundo ele, um grupo de amigos que ele conheceu na internet fez com
que ele lançasse um “trote” como desafio. “A gente sempre se desafiava e
tinha que provar que realmente tinha cumprido a missão. Eu esperava que
o FBI respondesse meu e-mail com algo como: ‘precisamos de mais
informações sobre isso’, porque a intenção era chamar a atenção deles.
Mas ninguém respondeu nada, já foram direto para a investigação”,
justifica o estudante.
Francisco foi preso no aeroporto de Miami no dia 9 de janeiro de
2014, dentro do avião que o traria de volta ao Brasil depois de passar
um ano e meio estudando e trabalhando em Nova York. Ele lembra que foi
um susto ser abordado por uma equipe tão grande. “Eu estava sentado na
minha poltrona quando vi uns dez agentes do FBI, da CIA e da polícia de
Miami entrando no avião. Na hora, pensei: ‘nossa, deve ter alguém muito
perigoso aqui dentro’. E no fim, era eu”, relata.
Da aeronave, o estudante foi
escoltado até uma sala do aeroporto, onde foi interrogado e confessou
que tudo não passava de uma brincadeira. “Eles orientam todo mundo a
avisar quando achar que tem alguma coisa suspeita. Se eu dissesse que
tive um mau pressentimento, não teria acontecido nada comigo, mas, como
falei dando certeza do que ia acontecer, acabei sendo preso”, conta
Francisco.
Nos meses seguintes, ele passou por penitenciárias de três estados
americanos e dividiu cela com até 60 presos estrangeiros. Devido ao bom
comportamento, a pena de um ano e um dia foi reduzida, e Francisco
deveria ter sido libertado no dia 23 de novembro de 2014. No entanto, a
burocracia do processo de deportação atrasou a volta do brasileiro ao
país de origem, e ele acabou saindo de Atlanta, na Geórgia, apenas na
última quarta-feira (18).
Fernando foi abraçado pela mãe no aeroporto
(Foto: Tássia Lima/ G1)
Da experiência, o estudante diz que ficou o aprendizado. “Você
aprende a não confiar muito nas pessoas. Eu tinha vários amigos nos
Estados Unidos que sumiram quando eu fui preso. Ninguém quis tentar
ajudar, todo mundo dizia que não queria se envolver. Nessas horas, a
gente aprende quem realmente está do nosso lado”, declara Francisco.
Viagem e reecontro
Depois de deixar a última penitenciária, na Geórgia, o brasileiro foi
acompanhado por dois oficiais de imigração até o aeroporto de Atlanta, e
só teve as algemas dos pés e das mãos retiradas na sala de embarque.
Ainda assim, os agentes viajaram com ele até o Brasil, um de cada lado
da poltrona onde ele estava. “Se eu ia ao banheiro, um deles ia comigo.
Me senti um pouco humilhado. Não tinha necessidade de tudo isso”, conta o
estudante, que só foi totalmente libertado após passar pela Polícia
Federal no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.
Do lado de fora do portão de desembarque, a mãe, Cláudia Cruz, o
esperava de braços abertos. Sobre o reencontro, Francisco resume: “Foi
perfeito”. Depois do longo abraço que se seguiu, Cláudia não desgrudou
mais do filho. “Agora, estou feliz de verdade”, diz, com um sorriso no
rosto. Após o desembarque no Rio de Janeiro, mãe e filho pegaram outro
voo para o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), onde chegaram pouco
depois das 19h30 desta quinta-feira (19). Em seguida, os dois seguiram
de ônibus para Sorocaba, onde a família mora.
Ele já pagou tudo o que tinha que pagar. Ele não matou, não roubou e não fez mal a ninguém, só a ele mesmo”
Claudia Cruz,
mãe de Francisco
Questionada se perdoa a atitude do filho, Cláudia não hesita : “E que
mãe não perdoa o próprio filho? Ele já pagou tudo o que tinha que
pagar. Ele não matou, não roubou e não fez mal a ninguém, só a ele
mesmo”, afirma a cabeleireira.
Planos para o futuro
Francisco não vai poder entrar nos Estados Unidos por dez anos, mas diz
que não pensa em voltar para lá, mesmo que conseguisse o visto. “Não
tenho mais vontade nenhuma. Agora, vou voltar a estudar e concluir minha
faculdade aqui”, afirma o estudante de marketing.
Recém chegado, ele ainda não encontrou os amigos, mas diz que isso
deve acontecer em breve. “Primeiro, quero matar a saudade da minha
família. Já entrei em contato com alguns amigos, mas ainda não
combinamos nada. Vou falar com eles esses dias para ver se a gente faz
uma festa”, encerra.
Entenda o caso
O sorocabano foi preso no dia 9 de janeiro em Miami, nos Estados Unidos.
A polícia americana publicou a queixa em seu site informando que
Francisco, que morava nos EUA havia dois anos, tinha enviado no dia 8 um
e-mail ao Departamento de Polícia de Miami (MDPD) e à TAM Linhas Aéreas
alertando sobre a existência de uma bomba em um avião da empresa.
A mensagem informava:
“Flight must not take off. Targeted. It will go down. Retaliation. Cargo is dangerous. Be advised” (Voo
não deve decolar. Marcado. Vai cair. Retaliação. Carga é perigosa.
Estejam avisados). Segundo a polícia americana, o Departamento de
Polícia de Miami rastreou a origem da mensagem e concluiu que ela foi
enviada de um computador na Montclair State University, na cidade de
Montclair, estado de Nova Jersey.
A polícia teve acesso às imagens que mostram o terminal de computador
usado para enviar a mensagem. “A segurança pública de quem viaja é
fundamental, e quaisquer ameaças feitas para perturbá-la serão
investigadas sem impunidade”, declarou JD Patterson, diretor do MDPD.
Na época, a assessoria da TAM Linhas Aéreas afirmou que foi
notificada pelas autoridades do EUA sobre a suposta presença de bombas a
bordo de uma de suas aeronaves.
“Para garantir a segurança dos clientes e da tripulação, a companhia,
como já fez em outras circunstâncias de alarme falso, reforçou a
inspeção de todas as cargas despachadas, assim como aos passageiros”,
diz a nota.
Ainda segundo a TAM, após investigações, foi confirmada que a ameaça
era falsa. “Nenhum risco foi detectado à segurança do voo JJ8043. A
aeronave decolou normalmente, no horário previsto”, completa a nota.
Fonte: Blog do Ronaldo Tiradentes